Reportagem da Carta da Indústria
Aprofundamento de estudo da Firjan torna mais visível as percepções que as empresas e os profissionais de sustentabilidade já manifestavam sobre as lacunas no aproveitamento do potencial da reciclagem no estado do Rio. Para entender os caminhos percorridos pelos materiais, a Firjan fez os recortes regionais do Mapeamento dos Fluxos de Recicláveis Pós-Consumo estadual e comprovou a diferença entre as realidades das regionais, tanto em relação à coleta seletiva, como em beneficiamento de resíduos.
O estudo verificou se os resíduos estão sendo incorporados no processo produtivo e quais são os materiais mais valorizados, entre outros tópicos. O estado enterra anualmente R$ 1 bilhão em materiais que poderiam seguir para reciclagem.
“Ao dividir o foco por regiões, percebemos algumas vocações específicas, como a concentração de empreendimentos do encadeamento produtivo da reciclagem na capital, na Baixada e no Sul Fluminense. Outras regiões do interior do estado, com menos expressividade em termos de empreendimentos formais, mostraram mais engajamento na segregação de recicláveis no momento da geração do resíduo. Precisamos explorar os pontos fortes de cada região e entender o que dá certo em um lugar que pode vir a funcionar em outro”, detalha Isaac Plachta, presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Firjan.
A média de coleta seletiva no estado do Rio é de 0,5% do total. Já duas regiões se destacam por estar acima desse índice: a Noroeste, que coleta 2,8%, e a Sul, com 2,0%, segundo Renata Rocha, analista de Sustentabilidade da Firjan. Dez municípios sul fluminenses oferecem algum tipo de coleta seletiva, sendo sete deles na modalidade porta a porta.
Em relação ao beneficiamento de resíduos pós-consumo proveniente de grandes geradores, o Sul Fluminense também fica em posição de maior destaque: processa 7,8% dos recicláveis segregados na origem, atrás da capital e de Caxias e Região, que juntas processam quase 80% do total registrado no estado.
A base de dados para o mapeamento foram dois grandes nichos geradores de resíduo. O primeiro é o resíduo sólido urbano (RSU) e o outro, os grandes geradores, que são as empresas. Quando elas geram uma quantidade maior que o limite da legislação, devem contratar um serviço para fazer o descarte. “Parte do grande gerador tem um entendimento e um controle do resíduo. Percebemos que o foco, às vezes, recai sobre as empresas, mas o volume gerado do RSU é bem expressivo e também merece atenção pelo seu grande potencial de aproveitamento e redução dos impactos ambientais”, destaca Carolina Zoccoli, especialista em Sustentabilidade da Firjan.
Plachta destaca o papel da indústria. “A reciclagem é uma das estratégias de sustentabilidade mais tradicionais da indústria, e a recente ênfase nos pilares ESG (ambiental, social e de governança) e na economia circular deram ainda mais força a essas iniciativas”.
Tanto as indústrias como os catadores precisam estar registrados para haver o rastreamento das informações. “É muito importante os CNPJs destinarem corretamente os resíduos para que as cooperativas os recuperem. Já o lixo urbano é mais difícil de trabalhar, pois envolve o comportamento de consumo. A Firjan vem atuando junto com os setores para desenvolver a cadeia de recicláveis”, acrescenta Renata.
Políticas públicas
O estudo foi realizado em 2021, a partir de dados oficiais dos órgãos públicos, ambientais e das empresas que fazem a coleta, que são fundamentais para que políticas eficientes de gestão de resíduos sejam implantadas. O percentual de municípios que reportaram esses dados subiu de 69,57%, em 2019, para 91,30%, em 2020. A regionalização dos dados foi publicada em abril deste ano. Cada região tem suas fragilidades e potencialidades. A Região Metropolitana, por exemplo, gera muito resíduo, mas absorve materiais de outros locais. Renata cita que no Noroeste ainda foram identificados muitos lixões. “Há potencial de material segregado intenso, quando há engajamento maior para reciclagem. Já a Região Serrana gera volume grande de material segregado de vidro e poderia desenvolver seu uso local ou ter interação com outras regiões”, afirma.
Os resultados já foram apresentados nas regionais Centro-Sul e Nova Iguaçu da Firjan e serão levados também para todas as regiões. O setor empresarial está sendo ouvido para sugerir boas práticas que possam ser compartilhadas entre as regiões. “Estamos trabalhando na divulgação e debate dos resultados junto a formadores de opinião e formuladores de políticas. Nos fóruns em que temos assento, temos incluído aprimoramentos em normas e regulamentos que desburocratizam as etapas da reciclagem no estado”, informa Plachta.
O mapeamento terá atualização anual. “Foi importante colocar o valor econômico para se entender a dimensão da questão dos recicláveis. Ainda há muito a ser feito, mas acreditamos que é possível mobilizar o encadeamento produtivo e a desburocratização do gerenciamento do resíduo pós-consumo, desde o incentivo à separação na origem até a efetiva internalização na indústria, substituindo matérias-primas virgens”, conclui Renata.
Acesse aqui a íntegra das nove fichas regionais.
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