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Michael Braungart: resíduo zero gera economia de 20% dos custos das empresas

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Publicado em 02/04/2019 17:09  -  Atualizado em  04/04/2019 11:15

A sustentabilidade é considerada um pilar fundamental para a sobrevivência da sociedade e do meio ambiente, apoiada em uma política de minimização de danos. Mas e se pudéssemos ir além dessa abordagem? O químico alemão Michael Braungart - referência mundial em economia circular - propõe um paradigma alternativo e provocador.

Para Braungart - que participou da palestra Design para Abundância: um conceito para além da sustentabilidade", na Casa Firjan -, não se trata de minimizar danos e sim evitá-los, devolvendo à biosfera somente o que puder impactar positivamente a natureza, eliminando a noção de resíduo. Na entrevista abaixo, o químico explica como funciona o chamado Design para Abundância e quais benefícios ele pode trazer para a sociedade e para as empresas. Confira!


Qual a diferença dos conceitos "do berço à cova" e "do berço ao berço" ("design cradle to cradle")?

Tradicionalmente, as pessoas pensam do berço à cova, o que significa que todo planeta se transforma em um grande cemitério. Com o crade to cradle, estamos diante de um novo paradigma, onde tudo é benéfico, tudo é nutriente. Estamos falando de produtos de qualidade e não do “menos ruim”. Isso tudo também tem raízes na nossa religião. Quando os seres humanos são inevitavelmente maus e somente Deus pode redimi-los, a única alternativa parece ser tornar-se menos mal. Minha proposta é diferente: em vez de não fazermos mal, por que não fazermos bem ao meio ambiente? Quando falamos em lixo zero, ainda estamos pensando em lixo. Isso não é proteção ambiental; estamos apenas minimizando os danos. Você não está protegendo seus filhos se bate neles apenas cinco vezes, ao invés de 10, não é mesmo? Precisamos aprender a ser bons para as outras espécies. Temos que plantar árvores. As indústrias precisam aprender a fazer o mesmo, gerando impactos positivos e não minimizando danos. 

"O cradle to cradle é bem-sucedido justamente porque gera uma economia de cerca de 20% dos custos, porque não é preciso lidar com o resíduo no final" - Michael Braungart

E a proposta do Design para Abundância? 

O Design para Abundância define um novo modelo de criação que irá impactar nosso futuro, redefinindo a ideia de design sustentável. Precisamos criar produtos úteis e não menos danosos. Com base na abundância da natureza, escolhemos o design inteligente para a abundância, em vez do desperdício. As coisas que são consumidas – comida, detergentes, solas de sapato etc – precisam ser recicladas e devolvidas para que sejam boas para a biosfera. E tudo o que é usado como serviço, como uma máquina de lavar ou aparelho de TV, precisa ser projetado para a tecnosfera. Nós não consumimos uma máquina de lavar e sim o serviço que ela oferece. Uma máquina de lavar que dura 50 anos é um prejuízo, porque não recuperamos os seus materiais. Se, por exemplo, um fabricante de máquinas de lavar vender o serviço de “duas mil lavagens”, em vez de vender todo o produto, materiais muito melhores podem ser usados e depois reutilizados pelo fabricante. 

 

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"O Design para Abundância define um novo modelo de criação que irá impactar nosso futuro"

 

Como o design para abundância se aplica à questão dos edifícios, por exemplo?

Os edifícios precisam ser mais flexíveis e projetados como serviços. Você não precisa ter uma porta, você precisa usá-la. Portanto, devemos projetar os componentes para que eles possam fornecer o serviço necessário e, em seguida, serem desmontados e os materiais reutilizados. E precisamos utilizar materiais saudáveis. Temos projetos interessantes, tais como os edifícios com florestas que purificam o ar ou com tetos que podem ser utilizados para a agricultura.

Como está a aceitação do cradle to cradle até o momento? 

Já temos 11 mil produtos cradle to cradle no mercado globalmente. Estamos indo bem. Se mantivermos esse ritmo, grande parte do mundo será cradle to cradle em 2050. Mais do que isso, a geração selfie tem um papel muito importante na aceleração dessa aceitação. São jovens que querem ter orgulho do que fazem. Para eles, o reconhecimento nas redes sociais é mais importante do que o dinheiro. Se estivermos produzindo lixo, estaremos sendo estúpidos. E ninguém quer ser visto como estúpido nas redes sociais. 

E quanto à adoção do conceito pelas empresas? Como o modelo pode impactar positivamente os negócios, especialmente em termos de retorno financeiro? 

O cradle to cradle é bem-sucedido justamente porque gera uma economia de cerca de 20% dos custos, porque não é preciso lidar com o resíduo no final. A principal vantagem para as empresas é a obtenção de produtos de melhor qualidade através de uma inovação adequada numa fase inicial. Há empresas que fabricam carpetes que limpam o ar, absorvendo toxinas e poeira, e que são bastante lucrativas. Além disso, o cradle to cradle permite que as empresas ofereçam seus produtos não apenas para venda, mas como um serviço. Após o uso do produto, os materiais permanecem na bio ou tecnosfera. Dessa forma, as empresas podem se tornar menos dependentes das flutuações de preço nos mercados de matérias-primas, por exemplo. Mas, claro, mudanças de mentalidade levam tempo para acontecer. Mas, como eu disse, há um fator acelerando esse processo. As gerações mais jovens estão mais comprometidas com a imagem que são capazes de comunicar. E trata-se de vender saúde e não toxicidade.
 

 
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