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Competitividade / Economia do Rio

Empresas de laticínios adotam medidas para aumentar a produtividade em território fluminense

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Publicado em 21/09/2022 10:14  -  Atualizado em  21/07/2023 15:30

Reportagem especial da Carta da Indústria

Para tentar aumentar a pecuária leiteira no estado do Rio, algumas iniciativas começam a fazer diferença. Uma delas é a da Cooperativa Agropecuária de Barra Mansa, no Sul Fluminense, com cerca de 400 associados que entregam 60 mil litros diários, apenas 20% de sua capacidade de processamento. O principal projeto é o de melhoria genética, através da fecundação in vitro (FIV), que tem a meta de quase dobrar a produtividade de cada vaca.

“É o modo mais rápido de melhorar a engenharia genética e a produtividade. Uma vaca, nascida de FIV, dá em média 14 litros de leite por dia, enquanto o animal comum, 7,8 litros/dia. Nesse método, usamos uma vaca ‘barriga de aluguel’, que recebe um material genético de uma fêmea leiteira e de um reprodutor top”, explica Claudio Meirelles, presidente da Cooperativa.

Cerca de 20 produtores aderiram ao programa na fase inicial, e a procura vem aumentando. A cooperativa subsidia 50% do valor e financia o restante com recursos próprios. Cada FIV sai a R$ 1 mil. Até setembro, as primeiras vacas nascidas no projeto começam a dar leite, conta ele, que financia também geradores para os tanques de resfriamento de leite nas fazendas.

Para completar os 300 mil litros processados diariamente, a Cooperativa compra o produto de Minas Gerais e de São Paulo, uma realidade encontrada em todo o estado. Foi o que comprovou o Diagnóstico do Agronegócio Fluminense, feito pela FGV Agro sob contratação da Firjan e da Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Faerj). A produção estadual é capaz de atender apenas 15,4% da demanda de leite do Rio, de 2,8 bilhões de litros por ano.

De olho no crédito

A estratégia da Cooperativa de Barra Mansa ataca outra fragilidade detectada no estudo: a produtividade fluminense cresceu menos que a de outros estados como Santa Catarina e Minas Gerais, fator que contribuiu para que a participação do Rio na produção total de leite no país caísse de 2,4%, em 2000, para 1,3%, em 2020.

Para reverter esse quadro, os empresários pedem medidas fiscais e investimentos públicos e privados. Antonio Carlos Celles Cordeiro, presidente do Conselho Empresarial de Agronegócios, Alimentos e Bebidas da Firjan, ressalta “o volume de crédito rural que vem sendo destinado ao Rio, se comparado a outros estados: 0,48% na safra passada. Há espaço para um financiamento maior da cadeia agropecuária fluminense”.

Essa realidade pode mudar, segundo o gerente de Crédito Agrícola do Banco do Brasil, Fernando Doherty: “O BB agora tem uma Superintendência de Crédito Rural no estado e destinou mais 31% de financiamento aos pecuaristas fluminenses na safra 2021/22: R$ 391 milhões, a maioria do Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar). Nosso objetivo é aumentar em 48% o volume de crédito na safra 22/23, para R$ 580 milhões”.

Além de crédito, a Firjan tem outras propostas para fortalecer a bovinocultura. “Somos o segundo maior mercado consumidor de leite do país e há condição de avançar. É preciso uma série de medidas, como assistência técnica e gerencial, melhoramento genético e recursos para custeio e investimento do produtor”, afirma Marcelo Martins, gerente de Relações Institucionais e Governamentais da Laticínios Bela Vista, que produz o leite Piracanjuba, em Três Rios, no Centro-Sul Fluminense.

Celles Cordeiro destaca o “alto custo do frete rodoviário para o transporte de soja e milho. O volume é muito grande e o ideal seria chegar pela rede ferroviária”. A carga tributária, tanto para a compra desses insumos como de maquinário e tratores, se torna mais um entrave lembrado por empresários do setor.

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Evolução da participação dos estados brasileiros na produção de leite. Fonte: IBGE

 

Guerra fiscal

A questão tributária foi um dos fatores responsáveis pela quebra estadual, segundo fazendeiros e industriais. “O Rio sempre foi um grande produtor de leite, mas, nos últimos 30 anos, várias cooperativas fecharam. Das 30, temos agora apenas seis. Era mais vantajoso o distribuidor trazer o lácteo de outros estados do que produzir aqui”, garante Silvio Marini, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio de Janeiro (Sindlat-RJ). Ele acredita que, se a produção crescer de 5 a 10% ao ano, é possível reverter o quadro ao longo do tempo. Para isso, as prefeituras precisam melhorar as estradas vicinais que dão acesso às fazendas, e as concessionárias devem garantir a qualidade da energia e o funcionamento de telefone e internet na área rural, acrescenta ele. 

Recentemente, forte mobilização da Firjan e dos empresários garantiu a retirada da Substituição Tributária (ST). Antes, o laticínio antecipava o ICMS dos outros elos da cadeia, agora ele só paga o imposto referente ao seu produto. “As distribuidoras recolhiam menos ICMS e revendiam mais barato o leite de outros estados. A retirada da ST traz competitividade. Hoje temos um incentivo fiscal melhor para quem produz”, ressalta Celles Cordeiro. A medida, entretanto, não está vigorando plenamente. A associação de distribuidoras conseguiu uma liminar que suspendeu a retirada da ST nas operações com produtos de outros estados feitas por seus associados, mas a Procuradoria do Estado do Rio vai recorrer. Nos outros casos, o fim da ST está valendo.

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Índice da produção de leite em estados selecionados (Ano 2000 = 100%). Fonte: IBGE

 

Programas das empresas

Assim como a Cooperativa de Barra Mansa, outras unidades vêm adotando medidas de incentivo para aumentar a produtividade. “A Quatá Alimentos tem um programa de capacitação e qualidade, do qual participam 80 produtores que recebem mais pelo leite em caso de produção maior e quando compram vacas. O financiamento é feito pelo BB com juros de 4,5%, ao ano”, explica Mauricio Franco, presidente do Conselho da empresa. Há 12 anos, a Quatá comprou a fábrica da Gloria, em Itaperuna, no Noroeste do Rio, onde processa 400 mil litros/dia, vindos de 400 produtores da região e também de Minas Gerais.

Outro que segue na mesma direção é o Laticínios Bela Vista, o maior captador de leite do Brasil. “No Rio, implementamos um conjunto de ações; entre elas, um subsídio mensal que visa uma produtividade maior. Oferecemos assistência técnica e gerencial para o planejamento da atividade”, salienta Martins. A Piracanjuba, que tem sede em Goiás, comprou em 2020 a fábrica da Nestlé, em Três Rios, onde processa 4,496 milhões de litros/mês, sendo 38% do Rio de Janeiro e o restante vindo de outros estados, principalmente de Minas Gerais.

Já a Cooperativa Agropecuária de Macuco, na Região Centro-Norte, também paga um diferencial no preço do leite para incentivar a produtividade, através de um convênio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). “Mantemos armazéns com rações subsidiadas, farmácia veterinária e veterinários, além de financiamento de tanques para resfriar leite. Assim, conseguimos um incremento de produção na ordem de 5% ao ano, com exceção do período da pandemia”, relata Marini, também presidente da Cooperativa, que reúne 4 mil famílias e produz em média 40 mil litros de leite/dia.

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Produção versus consumo de leite no estado do Rio. Fonte: IBGE (Censo agropecuário 2017)

 

Preço elevado

Neste inverno, a baixa produção de leite do estado – associada a fatores nacionais e internacionais – causou uma explosão do preço ao consumidor. “Em 2021, o produtor não investiu em ração, em novos animais e houve abates de bovinos porque a arroba da carne estava alta”, explica Marini.

Os custos de produção, como energia, combustível, soja e milho, cresceram mais de 20% no período. A seca no Sul e o excesso de chuvas no Nordeste também afetaram. “A alta da soja e do milho foi devido aos preços internacionais, por serem commodities, impactados também pelo aumento dos custos de produção”, completa Fabrinni Monteiro dos Santos, assessor técnico do Conselho de Agronegócios da Firjan.

O litro do leite chegou a R$ 10 no varejo, mas empresários acreditam que, a partir de agosto, o preço volte a cair. A aposta é em patamares na casa de R$ 6, segundo Marini: “O produtor terá uma margem para investir, se o preço dos insumos e de outros custos também diminuírem”.

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