<img height="1" width="1" style="display:none;" alt="" src="https://px.ads.linkedin.com/collect/?pid=4124220&amp;fmt=gif">
Portal Sistema Firjan
menu

Notícias

Firjan

Festival Futuros Possíveis debate o poder dos sonhos como escuta do mundo e transformação social

Iuri Campos, a psicanalista Hélia Borges e a antropóloga Hanna Limulja

Iuri Campos, a psicanalista Hélia Borges e a antropóloga Hanna LimuljaFoto: Vinícius Magalhães | Firjan

Tempo médio de leitura: ...calculando.

Publicado em 27/10/2025 11:23  -  Atualizado em  04/11/2025 17:17

Num mundo marcado por crises ambientais, sociais e tecnológicas, o Festival Futuros Possíveis 2025, no seu segundo dia, 24/10, na Casa Firjan, abriu espaço para um debate inusitado: o poder dos sonhos como forma de escutar o mundo e imaginar novas formas de viver. A palestra “Como os sonhos nos ajudam a escutar o mundo”, com a antropóloga Hanna Limulja e a psicanalista Hélia Borges, foi gravada ao vivo como episódio especial do Podcast Lab de Tendências, sob mediação de Iuri Campos, especialista em Conteúdo e Inovação da Casa Firjan.

Logo na abertura, Campos destacou que o tema amplia o olhar do Lab de Tendências, que normalmente aborda inovação, tecnologia e comportamento, para dimensões mais subjetivas da experiência humana. “Hoje queremos mergulhar no sonho não como uma abstração, mas como ferramenta de criação, de bem-estar e de conexão com o outro”, explicou.

A antropóloga Hanna Limulja, pesquisadora sobre os Yanomami desde 2008 e autora do livro “O Desejo dos Outros – Uma Etnografia dos Sonhos Yanomami”, compartilhou a visão desse povo indígena sobre o ato de sonhar. Segundo ela, entre os Yanomami o sonho é tão real quanto a vigília: “Quando alguém sonha com outra pessoa, acredita-se que é o outro quem o chama. O sonho é sempre uma relação e nunca uma experiência isolada”.

Hanna
relatou que o aprendizado com os Yanomami a fez compreender o sonho como território compartilhado, um espaço de troca e aprendizado coletivo. “Compartilhar o sonho é fundamental, mas isso só acontece em comunidade. O sonho é também uma forma de cuidar do vínculo”, afirmou.

A psicanalista Hélia Borges, professora da PUC-Rio e pesquisadora das relações entre arte e psicanálise, complementou o debate com a perspectiva clínica. Ela relembrou que o estudo dos sonhos foi a base da psicanálise, com a obra inaugural de Freud, “A Interpretação dos Sonhos” (1900). “A psicanálise nasce do desejo de compreender a complexidade humana, algo que os métodos científicos tradicionais não captavam”, explicou.

Para Hélia, os sonhos revelam não apenas desejos individuais, mas também o inconsciente social. “Nosso inconsciente é atravessado pela história, pela cultura e pelas relações coletivas. Quando sonhamos, também sonha a sociedade em nós”, disse.

O painel propôs ainda um diálogo entre a antropologia, a psicanálise e a neurociência para compreender o sonho como fenômeno individual e social. “O sonho é uma forma de escuta. Ele é, ao mesmo tempo, subjetivo e coletivo, pessoal e político”, complementou Iuri Campos.

Nessa parte, Hanna destacou a importância de compartilhar os sonhos. “Não basta sonhar. É preciso contar o sonho, e contar exige comunidade, vínculo, escuta. O sonho,assim, é uma forma de cuidado coletivo. Percebo que o sonho conecta pessoas de universos completamente distintos. Mesmo com repertórios simbólicos diferentes, todo mundo sonha e se reconhece nisso”, disse.

Hélia Borges, acrescentou que a compreensão do sonho evoluiu de um “lugar de realização de desejos reprimidos para um espaço de criação e reorganização da experiência humana; sonhar o momento em que o inconsciente produz imagens capazes de reorganizar o mundo interno e projetar novos horizontes”, afirmou.

Durante a mediação, Iuri Campos falou dos pontos de convergência dos sonhos com a neurociência contemporânea, citando as pesquisas da neurocientista Natália Mota, também presente no festival.

Ao final, as palestrantes refletiram sobre o ressurgimento do interesse pelos sonhos na cultura contemporânea. Para Hélia, “num tempo dominado pela lógica da produtividade, sonhar é um ato de resistência; uma forma de recuperar a sensibilidade e reencantar o real”. Hanna acrescentou que o sonho é também uma linguagem universal: “É uma ponte entre mundos. Mesmo sem partilhar a mesma língua, conseguimos nos reconhecer no que sonhamos”.

A gravação do painel estará disponível em breve nas plataformas de áudio do Podcast Lab de Tendências.

Leia tambémFuturos Possíveis propõe reflexão sobre (re)encantar o futuro e as macrotendências permeadas pela tecnologia

 
Para Empresas
Competitividade Empresarial Educação Qualidade de Vida