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Estética sustentável: Carta da Indústria entrevista Guilherme Takeda

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Publicado em 08/11/2022 10:02  -  Atualizado em  20/07/2023 14:33

Ele é parceiro do Programa Calçada Acessível da Firjan, iniciativa que conta também com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), o Induscimento e a Associação BlocoBrasil, no estado do Rio, com o objetivo de padronizar as calçadas de todos os municípios fluminenses e torná-las mais inclusivas e sustentáveis. Guilherme Takeda tem 30 anos de experiência com arquitetura e desenvolve projetos singulares que mesclam a natureza e o concreto. Seguindo a neurociência como caminho para construir edificações a partir da biofilia (amor à vida) – que promove a reconexão dos humanos com a natureza –, ele cria ambientes naturalmente inclusivos. Diretor da Takeda Design, especialista em Novo Urbanismo e em Psicologia Positiva, ele acredita que a transformação dos espaços públicos em sustentáveis e agradáveis, acessíveis e ecológicos deve priorizar o bem-estar social. Confira nesta entrevista exclusiva à Carta da Indústria.

CI: Quais os principais elementos inseridos no Programa Calçada Acessível?
Guilherme Takeda: O Programa Calçada Acessível, parceria Firjan-ABCP, foi criado em 2010 no Rio de Janeiro e contava, em 2018, com 26 parceiros. Este ano, já está sendo implantado em 32 municípios do estado do Rio. São vários os benefícios. O programa tem a expectativa de movimentar a economia local, gerando obras para o setor da construção civil, impulsionando novos negócios, estimulando demandas industriais, propiciando desenvolvimento tecnológico aos municípios, sendo vital a garantia do bem-estar da população. No momento em que as prefeituras começam a melhorar as calçadas, começam a valorizar as moradias, o bairro, e isso tem trazido sentimento de pertencimento grande a todo cidadão.

CI: De que forma o retorno da população se manifesta?
Guilherme Takeda: A população começa a se apropriar da área pública – isso é um grande sonho nosso – e começa também a cuidar das calçadas para que elas se mantenham de uma forma mais bonita, igualitária, democrática – principal constatação dessa ação feita. Jaime Lerner, que criou todo o plano de Curitiba, falou da importância da acupuntura urbana, onde cada ação de melhoria na cidade irradia sentimento de bem-estar. As pessoas tendem a arrumar seus lotes, suas casas, os jardins, as praças. Isso é muito impactante. Várias cidades da Baixada Fluminense, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, já fizeram essa experiência. Todas essas cidades tiveram legislação própria e melhoraram seus espaços públicos com o cuidado da população. Esse é o orgulho da cidade.

CI: Qual a relação desse debate com o direito à cidade?
Guilherme Takeda: A questão da calçada já é uma discussão muito antiga. A calçada é um direito inalienável de todas as pessoas para terem acesso às cidades. Isso tem melhorado muito nos últimos anos, com a parceria da ABCP, junto com a Firjan, universidades, técnicos, arquitetos e prefeituras. O objetivo principal é a democratização das calçadas. Hoje são várias tecnologias que permitem criar calçadas acessíveis. As mais comuns, seguindo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e legislações de municipalidades próprias, são as placas cimentícias ou os blocos de concretos, que possibilitam um caminhar seguro e o andar de cadeiras de rodas sem muita trepidação. Ambas têm característica de rugosidade, que não permite que os indivíduos escorreguem, mantendo as pessoas em um trajeto mais tranquilo. Deveriam ser três faixas diferentes nas calçadas: a de serviço, onde estão todas as árvores, mobiliário urbano, a sinalização e o rebaixamento do meio-fio para acesso dos automóveis às garagens, com no mínimo 70cm; a faixa livre exclusiva aos pedestres, com no mínimo de 1,20m de largura; e a faixa de acesso com a função de apoio ao lote, onde também é possível colocar jardineiras móveis e alguns mobiliários. A faixa livre deve ser totalmente desimpedida de barreiras, para os que tenham problema visual ou de locomoção possam caminhar. 

CI: Uma das marcas de seus projetos é a apreciação da natureza, com uso de formas orgânicas que passam a impressão de que se fundem ao meio ambiente. A sua arquitetura recebeu influência de Burle Marx?
Guilherme Takeda: Ah, sem dúvida! Burle Marx é, não só, um ícone nacional, como internacional. Em todos os projetos, ele definiu o uso de plantas nativas, autóctones, do local, que se mimetizam com a natureza. O que está sendo estudado hoje é que esses traços orgânicos do Burle Marx têm muito a ver com os traços orgânicos da própria natureza, o que vai ao encontro da biofilia (amor à natureza), que sugere que os indivíduos possuem uma tendência inata de buscar conexões com a natureza. Estudos científicos contemporâneos sugerem que o uso das formas e de cores naturais, utilização de elementos naturais da arquitetura, somado ao traçado curvilíneo que ajuda a expressar e se mimetizar com a natureza, trazem um bem-estar inconsciente ao indivíduo.

CI: Como seus projetos mesclam o inovador com o meio ambiente de forma integrada?
Guilherme Takeda: Mesclar tecnologia de bem-estar tem muito a ver com o buscar a qualidade da vida. Criamos o Congresso Brasileiro da Arquitetura da Felicidade, que busca a neurociência a serviço da arquitetura, ou seja, entendendo os cérebros para fazer uma arquitetura de melhor qualidade. Toda essa nova tecnologia da neurociência de entendimento das linhas curvas que trazem bem-estar, elementos naturais, estratégias de comunhão com a natureza, isso tem ajudado muito a criar um paisagismo em busca da felicidade, esse é um caminho sem volta.

CI: Poderia citar outros elementos nessa linha da felicidade?
Guilherme Takeda: A Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), dos Estados Unidos, tem feito estudos fantásticos não só da questão do Design, mas do cheiro como elemento importante para trabalhar com essências nativas, as vegetações, os sons de água e, não menos importante, memórias afetivas. Todos esses elementos, juntos com a questão visual e esses sentidos trabalhados em conjunto têm ajudado as pessoas a terem melhor qualidade de vida. Tem uma frase de Paul Friedberg, arquiteto paisagista norte-americano, que diz: “O arquiteto cria o cenário onde as pessoas vivem o teatro da vida”. Olha só que bacana! Ele coloca esse compromisso nos arquitetos. Temos o compromisso de criar um cenário onde as pessoas vão viver o dia a dia com muito bem-estar, qualidade e, principalmente, acessibilidade, com calçadas bem desenhadas, e que se tornem um ícone para a cidade.

CI: Você foi pioneiro em alguns conceitos, como o uso do meio ambiente de maneira estética. Poderia explicar os conceitos de sua arquitetura?
Guilherme Takeda: Sem pretensão de ser pioneiro, sou um dos precursores da biofilia na neuroarquitetura no Brasil. Essa técnica é muito nova – quando a arquitetura utiliza aspectos que afetam o cérebro. Trago palestras de cientistas para o Brasil para que eles falem das novas pesquisas que já estudam elementos que tragam o bem-estar por meio da cultura. Quando a pessoa tem algo de cultura vinculado a uma praça, cria uma conexão cultural. Memórias afetivas que têm a ver com a infância, com a cultura local, têm criado espaços mais agradáveis, trazendo um storytelling, narrativas costuradas que têm a ver com essa população. Trabalhamos com sociólogos, antropólogos, multiprofissionais para criar um cenário que tem a ver como dia a dia do cidadão, fazendo com que sinta e perceba: “Estou sendo contemplado culturalmente neste espaço”. E não um ambiente importado que não tem a ver com a cultura e os costumes da população, dando condições térmicas e ambientais para que as pessoas fiquem nas ruas.

CI: Poderia citar um exemplo?
Guilherme Takeda: A solução para Aracaju, capital de Sergipe, no Nordeste, cuja população não ia às ruas por conta das altas temperaturas, foi a execução de calçadas sombreadas, com pergolados e marquises. Também criamos “gentilezas urbanas”: bancos, áreas de prática de exercício e de lazer, para que as pessoas possam conviver harmonicamente. Muito importante para estabelecer relacionamento afetivo e social.

CI: A Organização Mundial de Saúde (OMS) identifica como “Síndrome do Edifício Doente” o conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados. Como a neuroarquitetura pode solucionar esse problema?
Guilherme Takeda: Já projetamos edificações com arquitetura saudável. Nas edificações novas, podemos usar a Certificação “Well”, que é baseada em sete categorias: ar, água, alimentação, luz, fitness, conforto e mente. Tem também a Certificação Healthy Building Certificate (HBC), em que as edificações são orientadas à saúde e bem-estar com a pegada da sustentabilidade. Fundamental também promover a neutralidade nas frequências de microondas e outras questões importantes como o verde e o uso de plantas nativas no paisagismo.

CI: Quais outros elementos o senhor utiliza?
Guilherme Takeda: Seguimos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. São de fundamental importância, não só para a Arquitetura, mas para todos os setores da economia, no respeito às diretrizes mundiais em busca da qualidade de vida no planeta. Sustentabilidade, portanto, é vital; uma obrigação de todo arquiteto, todo cidadão, de buscar essas diretrizes para que tenhamos até 2030 um mundo melhor do que deixamos em 2020.

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