A participação de mulheres em atividades profissionais desempenhadas tradicionalmente por homens, a insistência da  sociedade em reservar a tarefa do cuidado às mulheres e a perspectiva de um futuro com mais equidade de gênero no mundo do trabalho foram alguns dos temas do documentário Lugar de Mulher, da Tocha Filmes, e da roda de conversa realizada durante a abertura do Festival X-Todas, no Teatro Firjan SESI Centro, nesta segunda-feira, 27/11.

A mesa foi mediada por Carla Pinheiro, presidente do Conselho Empresarial de Mulheres da Firjan, e contou com as participações de Lindalia Junqueira, CEO da Ions Innovation & Hacking Rio, de Mel Bonfim, vice-diretora de ensino do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, da historiadora Manuela Fantinato e de Nayá Nascimento, profissional de data science, com experiência em startups de energia, educação e dados. O debate, seguido da projeção do documentário Lugar de Mulher: os inexatos percursos femininos nas exatas, deu início à programação do X-Todas, totalmente voltada para temas inclusivos e que celebram a diversidade nos Teatros Firjan SESI Centro e Jacarepaguá, no Rio, e em Campos, Macaé, Itaperuna e Caxias.

Confira a programação completa do X-Todas

“Diversos estudos apontam que quanto mais diversidade existe na liderança da empresa, melhores resultados ela alcança. No entanto, os mesmos estudos indicam que a equidade no universo empresarial só deve ser atingida em mais de 130 anos. O Conselho Empresarial de Mulheres da Firjan foi criado para incentivar e acelerar a igualdade na alta direção das empresas, a fim de construir uma sociedade mais justa no Rio de Janeiro e no Brasil”, afirmou Carla Pinheiro, que destacou a importância de debater a invisibilidade feminina nos cuidados com filhos, idosos e tarefas do âmbito doméstico em geral: “Esse foi o tema da redação do último Enem e do prêmio Nobel de Economia deste ano”, lembrou a presidente do Conselho Empresarial de Mulheres da Firjan.

Todas as edições do Festival, que completa 10 anos em 2023, buscaram ampliar a visão sobre o cenário cultural, oferecendo espetáculos de artistas reconhecidos ou novos talentos. O documentário Lugar de Mulher: os inexatos percursos femininos nas exatas, dirigido por Manuela Fantinato e Sylvio Rocha, procurou mulheres da área STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) para discutir os desafios vivenciados quando escolheram trabalhar em um setor dominado pelos homens. Todas as participantes do debate foram entrevistadas para o filme.

Se para mulheres de classe média houve dificuldade em obter reconhecimento profissional, o desafio é muito maior para uma jovem moradora da Maré, como Nayá Nascimento, cujo depoimento emocionou a plateia que lotou o teatro.

“A faculdade pública tenta, o tempo todo, mostrar que aquele não é o lugar para a mulher pobre. Precisei provar que era negra, para garantir meu direito à vaga como cotista, demorei a  conseguir bolsa de auxílio, levei várias vezes meu filho para a sala de aula porque não tinha com quem deixar. As faculdades federais não se estruturaram para receber o aluno pobre, têm aulas em período integral e poucos cursos noturnos”, contou Naiá, que cursou Ciência da Computação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Festival X-Todas acontece até o dia 03/12 com programação totalmente composta por mulheres. Foto: Luciola Villela.

Em 2023, o X-Todas comemora a 10ª edição do festival X-Tudo e celebra a trajetória e o protagonismo da mulher na arte e nas mais diversas áreas de atuação. A programação do festival segue até o dia 03/12.

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