Como transformar cidades em ecossistemas de inovação? Quais os principais mecanismos e desafios? A articulação entre universidades, governo e indústria tem sido um dos principais métodos para garantir esse desenvolvimento. O espanhol Josep Miquel Piqué, presidente do La Salle Technova Innovation, em Barcelona, e da Rede Catalã de Parques Científicos (XPCAT), esteve na Casa Firjan, em 16/05, para debater a importância da criação dos chamados Pactos de Inovação nas cidades.
Na palestra “Pactos de Inovação para a Transformação Econômica e Social: Cases Barcelona, Medellín e Porto Alegre”, Piqué afirmou que a combinação de talento, tecnologia e financiamento é o caminho para a transformação de oportunidades em valor. “A competitividade e a produtividade também são fundamentais. Mas talento e tecnologia é a dupla potente que impulsiona todo o resto. Precisamos criar ecossistemas que permitam atividades inovadoras. As universidades e seus parques tecnológicos, com o apoio do governo, devem prover isso, conectando ainda startups e grandes empresas”, destaca.
Piqué propõe uma abordagem holística para o modelo de inovação das cidades, levando em conta as dimensões urbana, econômica, social e de governança. Ao explicar o processo de estabelecimento dos Pactos de Inovação, o espanhol destacou a importância da imaginação. “Imaginar é preciso. Exercícios de visão são capazes de nos informar para onde queremos ir; que tipo de cidade almejamos com o pacto. E o ponto de partida é o reconhecimento de uma agenda de desafios. A partir daí, devemos alinhar todos os agentes na busca por soluções conjuntas”.
Cidades transformadas
Para tangibilizar suas proposições e inspirar futuras alternativas para o Rio de Janeiro, Piqué apresentou as experiências que coordenou nas cidades de Barcelona, na Espanha, e Medellín, na Colômbia, além do trabalho que tem feito em Porto Alegre, desde que foi incluído no Pacto dessa cidade.
Alçada à posição de capital europeia da inovação, Barcelona, graças ao Projeto @22, passou por uma incrível revitalização, com a transformação de cerca de 200 hectares de área industrial obsoleta. O projeto investiu, com financiamento privado e público, em centros de inovação, incremento de zonas verdes, infraestruturas avançadas e novos modelos de mobilidade e novas redes de energia e de telecomunicações. A experiência se tornou um espelho para o resto do mundo.
O modelo foi exportado para Medellín, que se tornou a cidade mais inovadora da América Latina, deixando para trás o seu passado violento e marcado pelo tráfico de drogas. O centro de inovação e negócios Ruta N teve papel decisivo nesse processo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes e para o fomento da cultura empreendedora, através da ciência, tecnologia e inovação.
Sobre o Pacto pela Inovação de Porto Alegre, oficializado em 2018, já foram mapeados seis macrodesafios: gerar, manter e atrair talentos; promover a imagem de uma cidade inovadora; desenvolver ambientes inteligentes para viver e trabalhar; qualificar e facilitar o acesso aos serviços para a população e para as empresas; produzir um ecossistema inovador de classe mundial; e melhorar o bem-estar das pessoas em saúde, segurança, cultura e meio ambiente.
Piqué ressaltou a liderança exercida pelas universidades UFRGS, PUCRS e Unisinos. “A capacidade de liderar das universidades foi algo inédito na América Latina e, talvez, até mesmo no mundo”, afirma.
Além da compreensão coletiva dos desafios e da visão de longo prazo, o espanhol apontou o acompanhamento contínuo do processo como uma das principais lições aprendidas nas experiências citadas. “É fundamental que, a cada seis meses, os integrantes da mesa Diretora do Pacto se reúnam para avaliar os avanços e os novos desafios que forem surgindo. A revitalização exige um comprometimento total por parte de todos os agentes com a cidade que se deseja construir”, frisou.