Quais são os caminhos para o estado do Rio recuperar seu dinamismo econômico? O segredo, de acordo com o professor e filósofo Roberto Mangabeira Unger, está na criação de um projeto estratégico capacitador e produtivista, baseado na economia do conhecimento.
“Precisamos de uma transformação produtiva combinada com uma mudança no ensino. Dessa forma é possível ver o Rio de Janeiro se tornar vanguarda nacional, sinalizando para o país uma alternativa produtivista e capacitadora. E assim, a partir do Rio, o Brasil se levanta”, disse Unger durante evento da série “Diálogos”, que já trouxe nomes como Miquel Piqué, presidente do La Salle Technova Innovation, para pensar o desenvolvimento do estado do Rio. O encontro aconteceu na Casa Firjan, em 04/06.
De acordo com o filósofo, a economia do conhecimento rompe com o paradigma dito tradicional, vindo da segunda metade do século XX, que centrava o desenvolvimento na industrialização, com produção em grande escala de bens e serviços padronizados e relações de trabalho hierarquizadas. O novo modelo de economia é o conjunto revolucionário de práticas produtivas, que se baseia em inovação permanente dentro do processo produtivo, aproxima a ciência e a tecnologia da produção, transforma a relação entre os trabalhadores e as máquinas e atrai o retorno de investimentos.
“É um paradigma produtivo potencialmente revolucionário, mas, na sua forma atual, em todas as grandes economias do mundo, aparece ainda confinado a ilhas que excluem a grande maioria dos trabalhadores e empresas. O que precisamos no Rio é de um vanguardismo que inclua todos, que se aprofunde à medida que se dissemine”, destacou. “Estamos acostumados a surfar na onda mundial, imitando países de referência, mas para executar este projeto precisamos pensar grande a fim de romper com o colonialismo mental”, completou.
Mudança em etapas
Para Unger, o Rio tem potencial para tomar a frente e organizar uma série de experimentos que sinalizem ao país esse caminho alternativo, mas é necessário desempenhar essa tarefa atendendo quatro eixos prioritários:
1. Valorizar setores como os complexos industriais de defesa, saúde, agropecuária e energia (petróleo, gás e energias renováveis);
2. Revolucionar a educação brasileira para um ensino analítico que rompa com excesso de conhecimento decorado e raso;
3. Traduzir essa estratégia nacional em políticas regionais que valorizem cada região do país e deem instrumentos necessários para criar, a partir de vantagens comparativas estabelecidas, novas vantagens comparativas;
4. Reconstruir o Estado brasileiro a partir de uma agenda que inclua o experimentalismo, ou seja, o Estado precisa convocar a sociedade para ser parceira na promoção de serviços, dando os instrumentos necessários.
O governador do estado do Rio, Wilson Witzel, também participou do debate e afirmou que se sente na responsabilidade de assumir essa missão rumo à economia do conhecimento. Witzel apontou frentes de atuação que visam estabelecer esta mudança de paradigma, como a agricultura, o turismo e a segurança pública.
“A agricultura do estado, por exemplo, recebia, mas não investia. Encontramos um parque sucateado e, junto com a Embrapa, estamos trabalhando com produtores rurais para desenvolver a nossa economia familiar em produção agrícola. Vamos investir R$ 30 milhões na região Norte para triplicar a produção do etanol e de açúcar, além de incentivar outras cooperativas a assumirem novas usinas, estimulando a agricultura a partir de verbas que vêm dos royalties do petróleo. Estamos à disposição para fazer do Rio a locomotiva para a transformação do Brasil”, disse o governador.