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Cooperação Brasil-França pela saúde

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Publicado em 26/05/2022 12:36  -  Atualizado em  01/06/2022 12:13

França e Brasil, com apoio da Firjan, decidiram se aproximar ainda mais a partir de agora para aprofundar o intercâmbio entre a ciência e a indústria, visando avançar na área da saúde. Nesta entrevista, Nacer Boubenna, adido para a Ciência e a Tecnologia da Embaixada da França no Brasil, fala dos desafios da atualidade e explica um novo modelo de intermediação que facilita a aplicação das descobertas científicas por parte das indústrias, de modo a beneficiar toda a sociedade. A possibilidade de futuras parcerias entre a Firjan, a Fiocruz e o Instituto Pasteur faz parte das discussões que estão em andamento. 

Confira a entrevista completa concedida à Carta da Indústria:

CI: Quais são os principais desafios à saúde pública na atualidade?
Nacer Boubenna: Vimos recentemente que um dos desafios é ter respostas rápidas a epidemias emergentes. Há também o desafio da utilização da ciência acadêmica para ajudar a criar uma sociedade do conhecimento. É importante que as pessoas entendam bem a ciência para que possam ter um comportamento de cuidados de si próprio e dos outros. Isso é necessário em período de pandemia e em todos os demais. A história da saúde passa pelo surgimento de doenças e do remédio, mas na atualidade há muito o que conhecer do funcionamento do corpo humano e da prevenção às doenças. O comportamento da sociedade terá impacto sobre isso. A alimentação, a atividade física, a poluição, para todos os elementos, a ciência agora tem a possibilidade de obter informações. O desafio é saber usá-las tanto para melhorar a ciência como para informar o público em geral, da maneira mais pertinente possível, a respeito de cuidar da saúde in[1]dividual e coletiva.

CI: De que forma podemos avançar nessa direção por meio da cooperação entre instituições, empresas e países?
Nacer Boubenna: Há duas partes: entre a França e o Brasil e entre a academia e a indústria. Sobre a primeira, é importante lembrar que as parcerias entre os dois países existem há muitos anos; e sobre a segunda, é importante a ciência pensar de uma maneira completamente livre do mercado, porque isso permite haver linhas de pesquisa sobre temas e doenças menos conhecidas, sem link visível direto com uma doença. Porém, ao fim terá esse link, porque os desafios que a pesquisa básica vai tentar resolver podem parecer pequenos quando não há rede de colaboração; mas quando a colaboração começa, vai surgir um médico a dizer: “Interessante esse mecanismo” e vai aparecer um parceiro industrial. Com a cocriação, é possível aproveitar as descobertas amplas da ciência, que ga[1]nharão um determinado foco do ponto de vista industrial. Pesquisadores e industriais vão falar um idioma diferente no início, mas com o tempo vão se permitir cocriar para beneficiar o público em geral.

CI: No intercâmbio em discussão, como a Embaixada imagina o modelo de cooperação?
Nacer Boubenna: Eu tenho um papel muito particular na Embaixada sobre as questões de pesquisa em saúde e também na promoção da inovação. A França fez muitos investimentos em modelos de inovação, nos quais profissionais passaram a exercer a função de entender o idioma dos dois lados – dos acadêmicos e da indústria – para fazer a intermediação entre ambos. Isso inclui encontrar as pesquisas nos laboratórios e saber quais tipos de indústrias podem se interessar, para falar com elas de maneira focada, aplicada a doenças. Essa intermediação é muito interessante, é um modelo que funciona bem. O Instituto Pasteur conta com essas pessoas. No meu caso, favorecer esse tipo de encontro em outros países é muito importante. É um networking para que as pessoas encon[1]trem possibilidades de trabalhar juntas.

CI: Poderia citar a experiência do Instituto Pasteur?
Nacer Boubenna: Eles possuem esses profissionais que entendem os dois idiomas, da academia e da indústria. Segundo ponto é que eles dispõem de equipes que conseguem promover inovações, e os pesquisadores promovem o diálogo com o objetivo de apresentar suas pesquisas para as indústrias que, podem ou não se interessar. Depois disso, o instituto dispõe de um modelo relativo à propriedade intelectual, que chamamos de maturação, ou seja, trazer a inovação a um ponto que interesse a indústria. Ou seja, matura um resultado científico até o ponto em que possa virar um produto. Por fim, o Instituto Pasteur tem recursos humanos qualificados, recursos para maturação de um projeto de inovação e, por fim, aciona uma rede de indústrias e startups para acelerar os investimentos privados nesses tipos de projetos.

CI: Esse modelo é responsável pelo fato de a França ter indústria farmacêutica forte mundialmente?
Nacer Boubenna: Esse modelo é um pouco novo. Antigamente, a indústria farmacêutica tinha muito, mas muito recurso para fazer pesquisa internamente. Agora estamos num modelo de ciência aberta ou cocriação com a academia, por conta dessa vontade de ter uma ciência produtiva. Além disso, as indústrias trabalhavam em um modelo de blockbuster, com uma molécula que gera muito dinheiro. Agora o modelo é diferente. É entender que um produto não pode ser usado para um painel de doença. Hoje fala-se cada vez mais de medicina personalizada. Ainda não se chegou a esse ponto, mas em pequenos grupos de pessoas. Assim, o investimento em pesquisa precisa ser muito mais alto. As linhas de pesquisa devem ser muito mais amplas, porque, em vez de um produto para a mesma doença, vamos
precisar de 10, 15 produtos, pois diferentes populações responderão diferentemente a eles. Daí a importância da cooperação, porque a pesquisa acadêmica ficará mais livre para promover novas descobertas e, assim, a indústria terá mais possibilidades. A ideia da cooperação é juntar esforços e usar a capacidade de cada um.

CI: Como a França pode contribuir com a saúde pública do Brasil e vice-versa?
Nacer Boubenna: O Brasil tem história nessa área de transferência de pesquisa para a saúde pública. A Fiocruz é um exemplo ótimo, com pesquisa e instituições como Farmanguinhos e Bio-Manguinhos, que produzem os medicamentos para a população. É um modelo muito interessante. Na França é muito diferente. As empresas que fabricam para a saúde pública são totalmente privadas. Essa intermediação, então, precisa ser mais forte. Também há em[1]presas francesas e brasileiras que traba[1]lham com a Fiocruz e com outros atores. Há um potencial muito forte no Brasil, onde essa cultura já existe e podemos fazer um intercâmbio de modelos, que são diferentes, mas com sinergias.

CI: A transferência de tecnologia se constitui em um dos principais eixos dessa cooperação?
Nacer Boubenna: Temos dois aspectos: a promoção do modelo de transferência de tecnologia, que eu, no meu papel na Embaixada, devo promover, assim como meus colegas em outras partes do mundo. Do outro lado, uma colaboração entre os dois países, com transferência de tecnologia entre as partes. Mais do que transferência de tecnologia, estamos falando de trocar ideias e material natural. Um aspecto muito interessante no Brasil é a diversidade genética, de biomas, como Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica. Tudo isso é
muito importante para França colaborar com o Brasil, onde os recursos humanos são do mesmo nível que o nosso, o que facilita colaborações.

CI: Quais exemplos de projetos pensados para esse intercâmbio?
Nacer Boubenna: Já existem muitos em andamento ou em perspectiva. Toda essa área de doenças emergentes, de vacinas, de novas tecnologias de RNA. Por exemplo, sobre zica, dengue, chikungunya há muitas colaborações da França com o Brasil, porque essas doenças existem no Caribe e no Oceano Índico. Lembrando que a maior fronteira da França é com o Brasil, na Guiana Francesa. Há muitos assuntos a serem discutidos.

CI: De que forma a Firjan pode contribuir?
Nacer Boubenna: A Firjan possui uma rede com uma variedade de empresas, de diferente portes e setores. É um parceiro que abre portas e faz as coisas acontecerem. Essa é uma vontade real da diplomacia científica, fazer acontecer coisas e não ficar apenas nos fóruns e outros eventos. Além disso, a Firjan tem institutos de pesquisa, como o de Inovação em Química Verde (ISI QV) e o Laboratório de Biologia Molecular (Lab Biomol), com instalações muito modernas. Uma segunda etapa da colaboração, mais técnica entre cientis[1]tas, envolve o que os pesquisadores da Firjan SENAI SESI e os franceses podem construir, uns com os outros. 

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