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A transformação digital é para todos

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Publicado em 24/03/2021 10:46  -  Atualizado em  24/03/2021 11:34

A necessidade de dar início a um processo de transformação digital chegou a todas as empresas, de diferentes setores, e, não por acaso, vem sendo abordada pela Casa Firjan desde a sua inauguração. Mas por onde começar? Nesta entrevista à Carta da Indústria, Ruy Quadros, professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp, dá uma série de dicas e exemplos, focando sobretudo indústrias de pequeno porte. Para estas, a chave pode estar nas parcerias, diz ele, que é idealizador do MBA em Gestão Estratégica da Inovação, também da Unicamp. 

Carta da Indústria (CI): O que é exatamente transformação digital?
Ruy Quadros: Numa definição simples, a transformação digital está relacionada ao uso de tecnologias digitais avançadas – como internet das coisas (IoT), conectividade, análise de Big Data, agregação de inteligência artificial, cloud computing – na completa transformação dos negócios. É uma forma de rejuvenescer negócios ou criar outros inteiramente novos, usando tecnologias digitais de ponta. Esse tema afeta a todos. Há um estudo de 2019 muito interessante sobre o grau de maturidade em transformação digital, feito pela McKinsey com empresas brasileiras de vários setores; e os três segmentos acima da média são serviços financeiros, varejo e, em terceiro, telecomunicações e tecnologia da informação (TI). Os setores industriais estão abaixo da média, mas há uma participação; e entre estes os que estão mais adiantados são bens de consumo, setor de transporte, indústrias de base e bens de capital.

CI: Como entender o conceito sem confundir com indústria 4.0?
Ruy Quadros: O conceito é mais amplo e se aplica não só à indústria. E mesmo quando falamos do setor, eu diria que ele compreende a indústria 4.0, que está muito ligada a processos manufatureiros. Nestas, vamos ver sistemas ciberfísicos, que também usam, por exemplo, IoT e Big Data, porém aplicado especificamente a sistemas físicos. Já a transformação digital está relacionada a transformar a organização, o negócio como um todo.

CI: Poderia dar um exemplo de rejuvenescimento do negócio?
Ruy Quadros: Darei um exemplo do livro que vamos lançar pelo IEL sobre como conduzir um processo de transformação digital. A Confiance Medical, do Rio de Janeiro, fabricante de equipamentos de videocirurgia, alavancou sua produção no mercado através das mídias sociais, criando uma proposta de conteúdo sobre laparoscopia, para se posicionar como uma empresa que tem autoridade no assunto. Claro que ela se valeu de parceiros, como clínicas médicas, para alavancar esse posicionamento. Ela buscou aumentar sua credibilidade, então começou seu processo de transformação pela área do marketing e da comunicação.

CI: E um exemplo de agregação de serviço?
Ruy Quadros: Transformação digital tem a ver também com acrescentar elementos digitais a um produto de consumo e, com isso, abrir possibilidades de criar serviços para o seu consumidor. Um equipamento de uso pessoal, como um relógio, um tênis, pode estar ligado a um sistema de serviços que elabore informações sobre o desempenho de um esportista numa determinada atividade. Para isso, acrescenta-se um sensor. Ou seja, o fabricante agrega serviços para o seu consumidor. Um grande diferencial da transformação digital é melhorar, alterar, mudar completamente a proposição de valor – aquilo que a empresa adiciona para o seu consumidor. Por outro lado, a empresa deve ter parceiros de novos tipos, como foi com a Confiance e os médicos. Um aspecto muito importante é explorar negócios através de plataformas digitais. A Natura comprou uma plataforma de serviços de beleza, a Singu, que é um marketplace. Foi uma visão mercadológica e uma ampliação da visão da cadeia de valor de parcerias, porque parte da mudança tem a ver com explorar serviços em bases digitais.

"O empresário deve pensar em algo que melhore a vida do seu cliente. Todo elemento manufaturado carrega um serviço, e tem valor pelo que ele performa”, Ruy Quadros, professor da Unicamp

CI: Estamos rompendo as fronteiras da setorização da economia?
Ruy Quadros: Sim, importante a indústria perceber que agregar serviço é o futuro. Claro que a indústria vai continuar produzindo bens de forma física, mas como horizonte de negócio, não se pode abdicar de novas oportunidades. A economia circular, por exemplo, o rastreamento de embalagens tem tudo a ver com transformação digital. Tem que agregar elementos de conectividade às embalagens para elas serem rastreadas, desenvolver uma cadeia logística reversa para garantir o recolhimento e fazer o processamento, tudo isso experimentando para chegar à melhor solução de maneira rápida. Não podemos esperar dois, três anos para desenvolver um sistema. Muitos negócios novos estão relacionados com a sustentabilidade. Eu diria que transformação digital e sustentabilidade se retroalimentam. Algumas montadoras criaram seus serviços de carshare. Já a Fiat lançou o serviço de carro por assinatura.

CI: O que uma indústria de pequeno porte precisa fazer para começar a incorporar a transformação digital?
Ruy Quadros: Precisa ser uma jornada, um processo progressivo; começar naquilo que o empresário sente que tem mais possiblidade de agregar valor e, ao mesmo tempo, trazer retorno que justifique a continuidade do processo. Para saber onde começar, a empresa pode fazer um diagnóstico, identificar a sua realidade digital, através dos elementos do seu modelo de negócios. Vai olhar quais são os canais com os clientes, os segmentos de cliente, as formas de relacionamento, a proposição de valor, os produtos e os serviços, e ver o que agregaria mais valor do ponto de vista do consumidor, e então avaliar o que pode ser feito; e pensar em parceiros. Além disso, pode olhar para seu processo produtivo e incluir questões de automação, de indústria 4.0.

CI: E depois desses passos, por onde seguir?
Ruy Quadros: Pode começar por algo incremental, ir somando conhecimentos e incorporando aos poucos ao seu processo de transformação digital. Para empresas de pequeno porte, muito do que é possível fazer de início está relacionado a agregar parceiros. Não tem que internalizar todas as redes da empresa. Um parceiro de TI pode ajudar a pensar num serviço novo, tendo o seu produto como elemento de base. Usar melhor as redes sociais também, e isso não exige um recurso absurdo. Mas tem a questão da mentalidade, de o empresário não se ver apenas como fabricante de produto, e pensar em algo que melhore a vida do seu cliente. Todo elemento manufaturado carrega um serviço, e tem valor pelo que ele performa. Ninguém compra componentes por si só, e sim porque vai levar desempenho ao seu produto.

CI: A digitalização transforma a empresa por dentro?
Ruy Quadros: Transforma muito a empresa. Há uma ascensão da área de tecnologia da informação e comunicação (TIC) como um vetor da inovação. Transformação digital tem tudo a ver com inovação. Em uma indústria convencional, sua área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e seus engenheiros sempre foram uma fonte importante de inovação em relação a produto. Agora a empresa tem outra área ascendendo, trabalhando transversalmente em todos os departamentos, que ajuda a inovar internamente, na relação com o cliente, na agregação de serviços. Muitas vezes a empresa passa a ter dois polos de inovação, um em P&D e outra em transformação digital, que traz soluções novas, algumas agregando a área de P&D. Em pequenas empresas, dependendo da área, como uma metalúrgica de pequeno porte, que fabrica a partir de desenhos de terceiros e desenvolve ferramental, por exemplo, estar bem conectada com a área digital do seu cliente pode agilizar todo o processo de comunicação técnica, de participação em tomada de preços etc., através de plataformas digitais. A empresa tem que estar à altura da digitalização do cliente.

CI: Qual a sua avaliação do estágio das empresas brasileiras nessa direção e o impacto da pandemia?
Ruy Quadros: O foco aqui no Brasil foi muito para o lado do processo manufatureiro. A preocupação também precisa ir para como digitalizar o produto, desenvolver novos serviços e criar bens de natureza nova. Na pandemia, o tema acelerou bastante. O mercado sobre plataformas digitais cresceu muito, porque as pessoas mudaram, estão se comunicando, trabalhando e se divertindo mais usando o mundo digital, e isso alavanca o processo. As empresas que não tinham interações digitais com os clientes passaram pelo menos a buscar isso para se manter no mercado. No caso brasileiro, boa parte do consumo ainda ocorre pelos canais tradicionais, mas vejo cada vez mais os jovens, mesmo nas periferias, se valerem da comunicação digital para consumir. Não é mais particularidade das rendas mais altas. No presente e no futuro, sobreviver e crescer passa necessariamente por pensar em caminho para transformação digital.
 

Assista ao Aquário Casa Firjan com a participação de Ruy Quadros

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