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Inteligência emocional gera lucro

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Publicado em 24/08/2021 17:18  -  Atualizado em  24/08/2021 17:32

As empresas são feitas por líderes que dão exemplo, inspiram, motivam e ditam o clima organizacional. Ligia Costa, especialista em liderança compassiva e instrutora da Firjan IEL, conta em entrevista à revista Carta da Indústria,  que os gestores estão vivenciando uma série de transformações nos modelos de negócios e de coordenação de equipes. Para o executivo seguir melhor nesses novos tempos, ela defende a metodologia Search Inside Yourself (SIY), do Leadership Institute, programa criado no Google que ensina habilidades de inteligência emocional por meio do mindfulness, que resultam em alta performance sustentada, forte colaboração e liderança eficaz. Certificada na metodologia SIY e ex-diretora do Yahoo, Ligia afirma que a liderança compassiva gera lucro.

Carta da Indústria (CI): Como você contextualiza o momento de incerteza enfrentado por executivos desde o início da pandemia?
Ligia Costa:
Estamos vivenciando uma série de transformações no mundo dos negócios e da liderança. De forma macro, passamos por uma transformação da era industrial, na qual tínhamos uma gestão de comando e controle, para a era de conhecimento, por volta de 1990, com internet, tecnologia, descentralização do mundo hierárquico e da informação. Isso trouxe também uma era da distração; temos muitas informações simultaneamente. E agora estamos vivenciando mais um boom, e há nele a revolução industrial com o 4.0, termo que surgiu em 2011. Temos bigdata, informações cruzadas, sistêmicas. Com isso, os gestores precisam se adaptar ainda mais ao formato de modelo de negócio, de gestão e de coordenação com as equipes. A pandemia desestruturou tudo.

CI: De que forma?
Ligia Costa: Tivemos uma lente de aumento nos estilos de gestão, que vêm se modificando. As pessoas foram trabalhar nas suas casas, porém independentes e conectadas, mas o líder não está habituado, porque a cabeça dele ainda está no controle, no “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Essa grande ruptura, de fazer gestão à distância através da confiança, da colaboração, de incluir a diversidade, tem causado uma crise de consciência na liderança, que não está pronta para essas mudanças.

CI: Quais as consequências mais visíveis?
Ligia Costa: Neste momento, vivenciamos a maior crise dos executivos com relação à exaustão, cansaço, estresse e síndrome de burnout. Nunca vimos tanto afastamento por saúde mental como agora. Isso já havia começado antes. A pandemia só acelerou todos esses processos, seja a digitalização, a tecnologia, a gestão por confiança e não mais por controle. Isso se intensificou. E adicionou algo que nunca foi comum e que, independentemente dos cargos hierárquicos, todos estão passando pelos mesmos medos, por conta da Covid-19. Isso mostrou que não somos mais robôs de cara-crachá, somos seres emocionais. Sentimos medos, alegrias, frustrações, e as pessoas estão tendo que falar sobre isso no mundo corporativo. Com isso entramos na inteligência emocional. Como falar em inteligência emocional em um mundo do trabalho no qual sempre acreditamos que somos robôs, que só precisamos entregar resultado? Estamos exatamente nessa crise.

"Líderes inteligentes emocionalmente vão conduzir as pessoas para que elas tenham equilíbrio e sejam produtivas"

CI: Quais são os caminhos para sair dessa crise?
Ligia Costa: Precisamos primeiro nos transformar, cada um de nós, para então sermos um líder compassivo. Sair do estilo de gestão mais autocrático, para entrar nesse líder humanizado, integral, servidor, compassivo. Esse é o tema do livro que estou escrevendo sobre essa liderança amorosa que gera lucros. A mudança inclui vários movimentos; o principal é esse papel de humanidade compartilhada, que é sair do eu. Muitas vezes os diretores e as lideranças estão buscando status, bônus individual, mas o movimento é em direção ao mundo colaborativo.

CI: Esse movimento passa também por uma transformação cultural nas empresas?
Ligia Costa: Acredito que a empresa seja feita por líderes. Sejam companhias privadas, públicas, multinacionais, elas são feitas por indivíduos que dão exemplo, inspiram, motivam e ditam o clima organizacional daquele ambiente. Toda a cultura da empresa é gerar lucro, lógico, mas pode ser de forma saudável. O mundo mudou, o capitalismo está mais consciente, e podemos ter o propósito antes do lucro. Se tenho pessoas doentes, qual será a nossa entrega?

CI: O que ainda está por vir?
Ligia Costa: Estamos entrando nessa era da humanização. Aí está o grande boom do momento, que é a tecnologia, a indústria 4.0, tudo interconectado em redes. E o humano também está interconectado. É uma era sistêmica e o humano tem que acompanhar as mudanças tecnológicas, da evolução e na ampliação de consciência também. Quem está no topo da liderança precisa despertar, porque eles são os causadores do clima organizacional nas suas empresas.

CI: De que forma a inteligência emocional pode ajudar os executivos?
Ligia Costa: O primeiro passo é ter essa consciência e estar no momento presente, porque a era da informação traz tanta distração que, segundo pesquisa de Harvard, nossa mente está divagando em 47% do tempo. E essa mente divagando está infeliz, não tem foco, direcionamento, clareza, está simplesmente respondendo a tarefas. Então, o primeiro passo é estar no momento presente, o que envolve as práticas de meditação mindfulness, que faz com que a gente reoriente a atenção para ter foco e clareza mental. Hoje as pesquisas mostram que, sem foco, perde-se até 40% da produtividade. Multitarefa não é mais sinônimo de produtividade.

CI: Daria para explicar com um exemplo?
Ligia Costa: Vamos supor que eu recebi um e-mail de um gestor me dando um feedback negativo. Talvez seja necessário dar uma pausa para separar a emoção do fato, de forma a minimizar o conflito que eu poderia causar, tomada por sentimentos como raiva. É o primeiro passo: ser autoconsciente. O segundo é gerenciar essas emoções. A inteligência emocional também ajuda a ter clareza dos nossos valores: o que é importante para nós? E ter clareza das nossas habilidades e talentos para colocá-los a serviço das nossas equipes. Vamos fazendo toda essa preparação e nos fortalecendo mentalmente para entender que, às vezes, só precisamos ultrapassar alguns obstáculos – que é a resiliência – para atingir os nossos objetivos lá na frente.

CI: Quais são todas as habilidades necessárias?
Ligia Costa: Esses pilares que citei – autoconsciência, autogestão, motivação, resiliência – são baseados na relação de cada um consigo próprio. Dizemos que são habilidades intrapessoais. Depois dessa etapa, vamos para fora, que são as habilidades interpessoais, de como me relaciono com os outros. Aí entra a empatia. Porém, nunca seremos empáticos se não fizermos a etapa anterior, porque acontece exatamente o oposto: a pessoa entra num estresse empático coletivo – e não é esse o papel do líder. Devemos ter inteligência emocional suficiente para ajudar a pessoa a sair da situação. Em seguida, trabalhamos também a compaixão e outras habilidades, entre elas a comunicação não violenta: como fazer conversas difíceis, como ter escuta atenta e ser capaz de oferecer um feedback construtivo, como fazer uma negociação que chegue na melhor escolha possível, observando os dois lados. O objetivo é chegar a respostas positivas para todos os cenários. É lógico que, muitas vezes, um vai ganhar e outro vai perder, mas podemos agir por uma perspectiva mais humana.

CI: Esses cenários exigem mais equilíbrio do executivo?
Ligia Costa: O grande causador de ambientes tóxicos são líderes tóxicos. As pessoas não vão embora das empresas, elas pedem demissão de chefes. Estresse e saúde mental estão totalmente relacionados à gestão. Líderes inteligentes emocionalmente vão conduzir as pessoas para que elas tenham equilíbrio e sejam produtivas, e eles sabem que isso gera lucro. O líder precisa se transformar para poder transformar a sua equipe e o seu ambiente.

CI: É aí que entra a metodologia SIY, que nasceu no Google?
Ligia Costa: Há várias formas de se transformar. Desde 2010, começamos a ver pesquisa científica comprovando que a meditação mindfulness realmente contribui para a regulação das emoções, para ampliação de foco, para autoconsciência. A metodologia do Google traz prática de mindfulness para desenvolver todos os pilares da inteligência emocional: autoconsciência, autogestão, motivação, empatia e liderança e integração, que é a comunicação não violenta, e integramos também a compaixão. A prática desenvolve cada um desses pilares. Primeiro, trabalhamos o estar no momento presente. É um exercício, se eu conseguir manter o foco, serei o mais produtivo possível.

CI: Exige muito tempo de prática?
Ligia Costa: Existe a prática dedicada, guiada, diária, com 15, 20 minutos de meditação, que é o treino mental. Porém, há “práticas de bolso” para integrar ao dia a dia. Não tem como cortar caminho, mas podemos colocar o milho ao longo do percurso. Na microprática, em três respirações trarei minha atenção para o meu momento presente. Vou inspirar e trazer a atenção para a respiração; inspirar e trazer a atenção para o meu corpo como um todo; inspirar e perguntar: “o que é importante agora? É a minha tarefa x”, então eu volto para esse momento presente. São três respirações conscientes que posso fazer antes de um encontro, de uma entrevista. É uma ferramenta.

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